A PESQUISA EM MEMÓRIA SOCIAL
“Quando se pergunta pelo método de um trabalho científico a resposta tem de ser procurada em, pelo menos, dois níveis:
I. A orientação geral da pesquisa, ‘tendência teórica’ que guiou a hipótese inicial até a interpretação final dos dados colhidos. [no caso do TCC: a PERCEPÇÃO]
II. A técnica particular da pesquisa, o procedimento. ”
“É claro que esses dois níveis se cruzam na mente do estudioso que sempre reflete enquanto observa ou colhe dados, pois a tarefa do conhecimento não se cumpre sem a escolha do campo de significação e sem a inserção das informações obtidas nesse campo.”
“Dessa breve evocação bergsoniana fique-nos a ideia da Memória como atividade do espírito, não repositório de lembranças. Ela é, segundo o filósofo, ‘a conservação do espírito pelo espírito’.”
“A comunidade familiar ou grupal exerce um função de apoio como testemunha e intérprete daquelas experiências. O conjunto das lembranças é também uma construção social do grupo em que a pessoa vive e onde coexistem elementos da escolha e rejeição em relação ao que será lembrado.”
“É claro que esta descoberta pode ser retomada em termos de ‘formações ideológicas’ que reagrupam e interpretam num sentido ou em outro as lembranças individuais.”
“No tocante as técnicas de pesquisa, estas devem adequar-se ao objeto: é a lei de ouro.”
“Em termos de pesquisa, na verdade se combinam bem os procedimentos de história de vida e perguntas exploratórias, desde que deixem ao recordador a liberdade de encadear e compor, à sua vontade, os momentos do seu passado.”
“Aqui se revela a maestria do pesquisador: uma pergunta traz em seu bojo a gênese da interpretação final; é uma verdade que não pode negar. E, no entanto, a liberdade do depoimento deve ser respeitada a qualquer preço.”
“Se a memória é não passividade, mas forma organizadora, é importante respeitar os caminhos que os recordadores vão abrindo na sua evocação porque são o mapa afetivo da sua experiência e da experiência do grupo...”
SUGESTÕES PARA UM JOVEM PESQUISADOR
“A entrevista ideal é aquela que permite a formação de laços de amizade: tenhamos sempre na lembrança que a relação não deveria ser efêmera.”
“Narrador e ouvinte irão participar de uma aventura comum e provarão, no final, um sentimento de gratidão pelo que ocorreu: o ouvinte, pelo que aprendeu; o narrador, pelo justo orgulho de ter um passado tão digno de rememorar quanto o das pessoas ditas importantes.”
“Quando a narrativa é hesitante, cheia de silêncios, ele não deve ter pressa de fazer interpretação ideológica do que escutou, ou de preencher as pausas.”
“A fala emotiva e fragmentada é portadora de significações que nos aproximam da verdade. Aprendemos a amar esse discurso tateante, suas pausas, suas franjas com fios perdidos quase irreparáveis.”
“Ao silêncio do velho seria bom que correspondesse o silêncio do pesquisador.”
“O silêncio na pesquisa não é uma técnica, é como que o sacrifício do eu na entrevista que pode trazer como recompensa uma iluminação para as ciências humanas como um todo.”
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