Introdução
Uma professora de balé perguntou aos seus alunos: “O que faz a coxa se movimentar?”. Um dos alunos respondeu:“Os músculos: o sartório, os adutores que movimentam o fêmur e assim fazem a coxa se mover”, “sim” contrapôs a professora, “mas o que mais?”. Ninguém respondeu. Ela então disse: “Cérebro!”.[1]
Este Trabalho de Conclusão de Curso surgiu de questionamentos sobre o profissional de dança, sua formação e seu processo de aprendizagem, partindo da necessidade de se refletir sobre o papel do bailarino na sociedade contemporânea, descrevendo um pouco do processo de formação e a (pretensa) atuação de profissionais formados em dança em diferentes escolas. Instigados também pelos questionamentos de Ângela Ferreira que levantam discussões acerca da formação do profissional de dança atuante, que é formado para ser inserido no mercado de trabalho:
“Será que podemos estar preparando alunos capazes de usar suas experiências cognitivas, não apenas na aquisição de destreza e de habilidades técnicas e de repertório de dança, mas também em uma maior compreensão da realidade?[...] estariam prontos não para reproduzi-la [a realidade] pura e simplesmente, mas para serem capazes de compreendê-la, recriá-la e apropriar-se dela na construção de um novo conhecimento e um novo ser?”. [2] (Ferreira, 2010)
Essa pesquisa propõe descrições e o levantamento de reflexões acerca dos profissionais de ambas as escolas, traçando um perfil do profissional de dança por elas formado, partindo da necessidade de se refletir sobre qual o papel do bailarino na sociedade contemporânea.
Assim, essa pesquisa surge da necessidade de se pensar a dança, de dançar pensando, ou pensar dançando. Surge da necessidade de se ver, ouvir, perceber como os outros indivíduos vivenciam os seus processos e como se vêem no mesmo.
“Como ensinar [e aprender] outras maneiras de fazer e usar a dança tornando-a propriedade de cada um?” (Idem, p. 80, 2010)
como, mais uma vez instigados, se apropriam dessa arte de se expressar com o corpo, de torná-la algo seu, única em cada corpo, em cada indivíduo.
A presente pesquisa busca também, na Escola de Dança de São Paulo e na Escola Livre de Santo André, não uma resposta a esse como “pensar a dança”, mas como os alunos tem pensado a dança que lhes é ensinada.
“Mas, se ele trabalha a partir de um corpus (um conjunto delimitado de elementos que servirão de objeto de estudo) necessariamente selecionando o que pretende, antes de tudo, é articulá-lo num conjunto coerente e o compreender”. [3](Coli, 1990)
Contudo, nessa reflexão acerca do processo de aprendizagem em dança do outro, essa pesquisa se utiliza do ponto de vista da percepção: a compreensão dos fatos através de pistas que formam um todo. Está é para Terezinha Petrucia da Nóbrega uma atitude corpórea que acontece pela sensação que se tem do objeto no espaço. Sendo, portanto, uma interpretação variável e temporalmente mutável em cada observador.
“O que ocorre é que os dados não são a origem das teorias. Elas não surgem deles. Dados são apenas provocações – peças avulsas de um quebra-cabeça – que sacodem a imaginação, pedindo-lhe que ela resolva o enigma.” [4](Alves, 2008)
Esa pesquisa não visa, portanto, provar uma teoria, mas sim, levantar, averiguar e propor questões acerca da importância e influência do ensino oferecido pelas escolas – de Dança de São Paulo e Livre de Santo André – para os alunos formados por estas.
[1] Betsy Lobato, formada na antiga Escola Municipal de Bailados, hoje Escola de Dança de são Paulo. Licenciatura Plena na Faculdade de Educação da USP. Atualmente dá aulas de balé adulto na Academia Fama Ginástica e Dança.
[2] FERREIRA, Ângela. Curso Profissional de Nível Técnico em Dança – o que eles formam? In: TOMAZZONI, Airton. Algumas perguntas sobre dança e educação. 2010. p. 83.
[3] COLI, Jorge. O que é Arte?. 1990. p. 37
[4] ALVES, Rubem. Filosofia da Ciência, Introdução ao jogo e as suas regras. 2008. p. 159.
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