quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Entrevista com Leticia Lacerda de Oliveira e Catarina Bueno da Silva, alunas do 5º ano de balé da manhã da Escola de Dança de São Paulo, realizada no dia 1 de setembro de 2011.

 
Transcrita por Levi Souza Novaes

Revista por José Teixeira dos Santos Filho

 

Lana: Lana Carolina Oliveira Isidoro

Letícia: Letícia Lacerda de Oliveira

Catarina: Catarina Bueno da Silva

 

 

Entrevista

 

Lana: Gostaria de saber sua experiência de vocês com a dança tanto aqui na Escola de Dança de São Paulo ou fora. O que influenciou vocês a procurar a EDSP?

Letícia: Eu já fazia balé desde pequena, Aí (ruído) eu gostava muito. Aí eu fiz o teste, passei, aí resolvi entrar.

Catarina: Eu queria ser bailarina, o meu tio ele me trouxe pra fazer uma apresentação no teatro municipal e ele ficou sabendo da escola e ele falou pra eu vir aqui fazer o teste. Passei.

Lana : Ah Legal! Mas você já tinha feito alguma coisa antes?

Catarina: Não

Lana: Não. (à Letícia) E você assim falou que você já fazia balé antes. O que te motivou a fazer antes daqui?

Letícia: Acho que, eu comecei muito pequena, comecei com três anos. Acho que é aquela coisa: você é pequenininha vamos fazer ballet, minha mãe acabou me colocando, aí, eu fui pegando gosto, fui crescendo e continuei fazendo sempre, nunca parei, aí eu resolvi fazer o teste.

Lana: E qual conceito de dança vocês tinham quando vocês começaram o curso? O que vocês pensavam de dança, quando você começou?

Catarina: Que era só balé clássico ou então valsa.

Letícia: Pra mim era só balé clássico, não tinha outra dança, era só... único balé que existia era o balé clássico, aí depois a gente vai descobrindo outras coisas.

Lana: Então essa idéia que você tinha quando vocês entraram mudou? O conceito que você tinha de dança mudou?

Letícia: Bastante.

Catarina: Muito.

Lana: E como foram assim, as etapas dessas mudanças? Como vocês foram percebendo que mudou o conceito de vocês a respeito da dança?

Catarina: A gente foi acrescentando mais disciplinas.

Letícia: É, acho que a gente introduzindo coisa nova, primeiro, do primeiro ao terceiro ano tinha criatividade, aí... era outra coisa, os professores sempre falava pra gente: “improvisa”, “não coloca nada do clássico”, “faz coisa diferente”, “movimentos criados, vocês que criam o seu movimento”.

Catarina: Vai tendo essa noção.

Lana: Diferente. E o que é dança pra vocês agora? É diferente do que era quando vocês entraram?

Catarina: Muito (risada)

Letícia: Bem diferente!

Lana: O que é a dança pra você agora?

Letícia: Acho que pra mim, é... agora eu não vejo mais só como uma historinha. Não só o balé clássico ou contemporâneo; não vejo só como uma história, mas sim você tem que expressar aquilo, não adianta você contar a história e não mostrar de fato como é, o que você... o que você (pausa) faz dentro da história, qual seu papel, acho que a dança agora tá (pausa) trazendo isso pra mim.

Catarina: A mesma coisa (risada)

Lana: E qual era o objetivo de vocês quando vocês entraram na escola?

Catarina: Seguir carreira.

Letícia: Eu ainda, ainda não pensava em seguir carreira. Eu só queria fazer o balé mesmo, gostava muito, mas aí depois conforme eu fui conhecendo melhor, agora, acho que... o meu objetivo agora é seguir carreira mesmo.

Lana: Então o seu objetivo mudou através do curso?

Letícia: É mudou

Lana: E o seu?

Catarina: (excesso de ruído impossibilita a audição da fala)

Lana: Você entrou com um objetivo e continua com ele? (Ela acenou que sim) O que que vocês estão aprendendo nas aulas de contemporâneo?

Letícia: Agora a gente ta trabalhando bastante com a mobilidade do corpo, porque até... até o ano passado a gente trabalhava só com o clássico, e o clássico no meu ver agora é muito assim, é muito quadrado, uma coisa mais, tudo preso (Catarina diz: Tudo igual), tem que ta tudo na técnica, o contemporâneo não, você pode se soltar mais. O corpo, ele fica mais a vontade.

Catarina: De vez enquando dói um poquinho.

Letícia: É mas... tudo dói né.

Lana: E nas aulas de consciência corporal?

Letícia: Acho que há uma ligação viu. Eu vou fazendo uma ponte entre o contemporâneo e conscientização porque a gente trabalha basicamente as mesmas coisas, mas em conscientização corporal a gente... trabalha mais assim (Catarina diz: Da onde sai esse movimento) como entender, como entender o movimento o contemporâneo não (não dá pra ouvir) a gente já começa a fazer, e em consciência corporal não. Vai trabalhando desde o início do movimento né,  todo assim, todo um processo.

Lana: Ah legal! E como a professora de vocês de contemporâneo, a Kika né? Como ela ensina?

Catarina: Eu acho que é de um modo divertido.

Letícia: Acho que é assim, ela ensina pra gente, mas ai ela não vai cobrando e tentando limpar. Ela vai tentando mostrar como faz pra gente entender o movimento, entende como faz e não fazer só por fazer e acho que acaba ajudando. Tanto no processo criativo, quanto nas aulas mesmo.

Catarina: Porque ninguém faz igual ao outro, né?

Letícia: É. Sim, cada um do seu jeito, mas eu acho que ela tenta mostrar pra gente como... como a gente chega no movimento e não como faz. E é isso

Lana: E a Yeda de consciência corporal, como ela ensina?

(risadas)

Letícia: (pausa) Acho que ela procura mostra primeiro nela, o movimento, como faz, depois ela tenta fazer com que a gente entenda, pra passar pro nosso corpo, a partir... assim, do contato visual, olhando, ela mostra, fala, explica.

Catarina: Ela faz a gente sentir um pouquinho o movimento, ela mostrando, ela... você vê que ela ta sentindo mesmo, e ai quando a gente tem que fazer, a gente tem que ter essa percepção.

Lana: E existe algo que vocês aprenderam assim, em dança, que motivou mais vocês?

Letícia: Que motivou? Bom pra mim é... o que motivou mais foi a introdução do contemporâneo em termos, que motivou bem mais que eu conheci um mundo novo praticamente do que só o clássico, me motivou bastante.

Lana: E você (direcionada para a Catarina, que faz gesto positivo). Contemporâneo também!

Lana: E como vocês superam a dificuldade nas aulas?

Leticia: Muito treino... (ruídos) quando a gente não consegue a gente vai treinando, treinando, é o que faz com que a gente consiga ultrapassar barreira, né.

Lana: Legal! Nas aulas de consciência corporal, vocês têm maior percepção e contato com o corpo de vocês, com a individualidade. E Quais foram as maiores descobertas que vocês fizeram de si mesmas?

Leticia: Acho que dos espaços do corpo. Antes eu não imaginava o quanto de espaços, é... cada articulação, cada coisa mínima que tem no nosso corpo. Eu pensava assim, eu pensava no corpo, mas como uma estrutura assim, que tinha articulações  mas... que não tão bem feitas assim, acho que, não sei, é diferente do que eu via o corpo e agora eu vejo.

Lana: E você, qual foi a sua maior descoberta? (direcionada para Catarina)

Catarina: (pensa) Os espaços também, toda hora, todo mundo ficava falando fecha, fecha e na verdade isso servia pra abrir os espaços.

Lana: E essas descobertas que vocês tiveram, que vocês fizeram, influenciou no modo de vocês dançarem?

Catarina: Muito, porque... (Letícia diz: Fala Catarina!), ajuda tanto no contemporâneo quanto no clássico. Tudo no... é, tudo no clássico é bem marcadinho, então você tendo essa percepção você sabe onde você tem que melhorar, aonde você tem que ajustar. No contemporâneo acho que é a mesma coisa, você poder mais... trabalhar mais um pouquinho, conhecer mais o movimento. É isso.

Letícia: Pra mim ajudou mais no contemporâneo. Que no clássico eu já entendia né? Que tinha que crescer, que... é  tudo mais amplo, agora no contemporâneo eu achava assim, era mais mole por ficar mais a vontade então eu que podia fazer de qualquer jeito Não precisava prestar atenção nos espaços do corpo, não precisava crescer tanto quanto no clássico, ai depois eu fui vendo a diferença, que mesmo sendo contemporâneo precisa, de... uma atenção.

Lana: A escola está passando por umas mudanças. O que vocês perceberam que mudou?

Catarina: Que agora o foco é... não é mais ensinar, é deixar a gente seguir carreira.

Leticia: Acho que eles tão tentando fazer (pausa), que nem agora no meio do ano, fez uma apresentação pequena de um processo criativo, que agora eles tão procurando trazer aqui pra gente, a gente não só fazer o que os outros pedem, mas também criar, porque quando a gente sai daqui, se a gente não souber criar alguma coisa, a gente não vai dançar a vida inteira.

Lana: Que efeitos essas mudanças tem causado em vocês?      

 Letícia: ah, eu acho que... é... antes eu (pausa) nem pensava que eu fosse  criar alguma coisa aqui dentro, por que eu  já sabia como era né, que sempre  os professores  montavam alguma coisa, é... então assim... criatividade (ruído) as aulas mesmo partiam da nossa cabeça, tudo assim, mas... é... coreografia, apresentação assim, tudo sempre os professores que montavam, tudo eles que planejavam, a gente opinava bem pouco, sobre a escola, acho que agora (pausa) é... o foco não é mais esse, o foco também é que a gente participe da escola, dos projetos, dê idéias.

Lana: Você tem mais liberdade de criação?

Catarina: Liberdade de criação e ponto de crítica também.                         

Leticia: Também.

Lana: Tem algum bailarino ou grupo de dança pelo qual que você tem preferência?

Leticia: Ah de clássico... ah de clássico tem vários, agora contemporâneo eu gosto bastante do Balé da Cidade.

Catarina: O Grupo Corpo também.

Leticia: O Grupo Corpo é muito bom! Eles têm coreografias assim... maravilhosas! Eles trabalham (Catarina fala alguma coisa que não dá pra entender) com o corpo de uma maneira (pausa) diferente assim, você olha e você fala: nossa! Isso deve ser muito legal de fazer.

Lana: E fora da escola, você tem alguma outra aula de dança? Ou algum contato com outra linguagem artística?

Letícia e Catarina: Não, aqui não.

Lana: O que vocês pretendem fazer quando terminar aqui?

Catarina: Eu pretendo seguir carreira. É que com essa introdução do contemporâneo acho que... numa companhia que tem dois: O clássico e o contemporâneo (ruído) não só o clássico.

Letícia: É.(ruído) Pretendo entrar numa companhia. Não... pra não dançar só o clássico, mas dançar clássico, contemporâneo.

Lana: E vocês pretendem fazer alguma faculdade?

Catarina: Eu queria fazer (pausa) queria fazer dança na Unicamp. Ou então... Artes do Corpo na PUC.

(ruídos e pausa)

Letícia: Eu não sei. Já pensei também em fazer alguma coisa relacionada à dança ou mesmo a artes cênicas, pensei também em fazer teatro, mas ainda não decidi o que que eu vou fazer, porque... acho que um pouco de tudo é legal, mas eu ainda não decidi. Não sei bem o que eu vou fazer.

Lana: E vocês pretendem continuar o estudo em dança quando acabar o curso? Vocês falaram que talvez participar de uma companhia que tenha tanto o clássico quanto contemporâneo, mas vocês querem continuar um estudo de dança quando acabar a escola?

Catarina: Acho que se a gente parar a gente não faz mais nada. Tem que sempre tá buscando.

Leticia: Eu acho que quanto mais a gente busca, quanto mais a gente faz, mesmo que a gente já saiba aquilo... a gente descobrindo maneiras novas de fazer. Eu acho que, talvez um seguir estudo seria bom. Mesmo na companhia, que tem aula.

Lana: Vocês acreditam que bailarino possa ser um agente transformador da sociedade, possa transformar a sociedade?

Letícia: Olha, acredito que seja bem difícil, ainda mais aqui no Brasil.

Catarina: Nada é impossível.

Letícia: É.

Catarina: É por que essa coisa você atuar na sociedade, você entrega a cultura pro povo.

Letícia: Acho que na verdade não dá pra fazer muito isso, porque tem muita gente que não tem acesso, que não conhece, mas eu acho que se todo mundo, se cada um visse alguma coisa, com certeza mudaria lá no fundo alguma coisinha.

Catarina: Aqui na escola mesmo teve projeto das escolas com alguns adolescentes que eles estavam bem interessados.

Lana: É isso meninas. Obrigada! Obrigada mesmo. Foi muito bom conversar com vocês.

 

 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

capitulo 1 - O que fundamenta a pesquisa


Houve um enrosco danado desse capitulo, sem dúvida é o mais difícil de escrever, envolve muitas ideias, muito conceitos que eu ainda não entendo. Ainda não me sinto seguro em dissertá-lo. Não sei se cheguei mesmo a entender sobre esse negócio que chamamos de PERCEPÇÃO.
Preciso de ajuda Camila!!!!
Aqui está o capítuo 1 modificado. Acho que tirei os erros mais incoerentes (só acho!) Ainda tem muito que corrigir, mas a partir daqui eu posso me nortear...
 
Capitulo 1 – Sobre a PERCEPÇÃO:

O ponto de vista que orienta a pesquisa

 

“A percepção é a compreensão

das pistas em termos do todo”.[1]

(Alves, 2008)

 

É impossível estudar a partir do ponto de vista da percepção sem se deparar como o trabalho de Maurice Merleau-Ponty[2], especificadamente com seu livro “Fenomenologia da Percepção”. Ponty aborda a Percepção de nós mesmos e do outro de uma forma extrememente ampla e profunda, que sem dúvida alguma, enriqueceria exponencialmente este trabalho, mas que no momento não está dentro da proposta dessa pesquisa e faria com q o foco fosse perdido... (enrosquei!!! Socorro, Camila!)

 Essa pesquisa objeta realizar um levantamento acerca da percepção que o aluno/bailarino tem da sua formação técnica atual. O que requer um olhar preciso e perceptivo do outro a partir de si. Contudo, o que se quer é “perceber” partes do processo de aprendizagem e a influência da escola na formação de pensamento de alunos de diferentes escolas com diferentes propostas de formação de bailarinos (profissionais de dança). Processos estes, diferentes do oferecido na ETEC de Artes e que são o referencial, o ponto de partida para os observadores (autores) dessa pesquisa.

Assim, fundamentar-se nesse amplo trabalho poderia nos levar a inúmeras reflexões e (novos) questionamentos que ampliariam e enriqueceriam esse trabalho. Porém, essa pesquisa não pretende ser tão grande, e portanto, resolveu-se estudar a percepção através da perspectiva de outros pesquisadores como Camila Davanço Bronizeski, Júnia César Pedroso, e Rubem Alves, que se fundamentam e se utilizam desse mesmo ponto de vista: A Percepção.

A pesquisadora Camila D. Bronizeski[3] em seu trabalho de Iniciação Científica “A dança como processo de percepção corporal na terceira idade”, desenvolve seu trabalho no campo da percepção apontando como um indivíduo percebe a si mesmo. Como a partir de mim, percebo a mim mesmo e percebo o mundo ao meu redor. Para ela, a percepção é o meio pelo qual tomamos consciência de nossa própria existência. Existência das partes do corpo, existência de si a partir de relações que estabelecemos com fatores externos.

“A existência do corpo implica na consciência deste fato; perceber-se no mundo significa diferenciar-se dele.” [4] (Bronizeski, 1999)

Sendo a percepção então, a experiência do indivíduo em relação ao mundo, esta não poderia se dar de si para si mesmo.

 

“O corpo próprio não pode ser objeto, pois é nele e com ele que se percebe, recebe e responde aos estímulos, a partir dele definimos o mundo exterior, realizamos julgamentos e determinamos nosso exterior”.[5] (Bronizeski, 1999)

 

(A Marta nos questionou sobre o porque de não podermos nos usar como objeto de estudo, fiquei confuso, não me sinto confortável para escrever sobre. Não é algo que eu entenda de fato.)

Foram estabelecidos objetos de pesquisa e observação – as escolas – utilizando-se também de um ponto de vista inicialmente empírico já que a pesquisa se alicerça a experiência de cada um dos pesquisadores como ponto de partida para observação.

Júnia César Pedroso[6] em seu texto Iniciação Científica “Klauss Vianna[7] e a expressão corporal do ator”, aborda a percepção voltada para a o trabalho de consciência corporal, a partir da “técnica” de Klauss Vianna para a construção de personagens a partir de seu próprio corpo e para a formação de bailarinos conscientes de seu próprio corpo, de seus próprios movimentos.

“Enquanto o nosso corpo nunca está totalmente exposto a nós mesmos, não podemos vê-lo fora, e ao mesmo tempo não podemos nos afastar dele.” [8] (Pedroso, 2000)

Enfim para uma expressividade corporal clara, seja no teatro ou na dança, pois, segundo Júnia, o processo de preparação corporal tanto na dança como no teatro se dá da mesma forma, ambas caminham para um “auto-conhecimento que gera um aprimoramento de gestos e atitudes” [9] . Assim, o processo de criação de um personagem, é um processo individual em que cada um construirá o personagem a partir de si mesmo, de seu corpo, de sua história, de suas experiências.

 “O meu corpo, portanto, é o meu ponto de vista sobre o mundo, o meio através do qual eu percebo este mundo que me cerca”.[10] (Pedroso, 2000)

            Já, Rubem Alves[11], em seu livro “A filosofia da Ciência – Introdução ao jogo e suas regras”, trata de questões filosóficas a cerca do como fazer ciência, por que fazer ciência, como ela foi feita no decorrer dos tempos e da veracidade dos conteúdos e teorias científicos abordados pela própria ciência e pelo senso-comum nos dias de hoje.

Ele coloca a percepção como um instrumento para a construção e compreensão dos fatos, sendo a “construção dos fatos” revelada pela constante “busca pela ordem” que vive o ser humano. Tal busca compreende em entender a fundo os eventos que acontecem conosco e no meio em que vivemos, dentro e fora de nosso corpo.

Assim, a ciência é uma pesquisadora da realidade, não se construindo de certezas, mas de incertezas, questionamentos, dúvidas, hipóteses, teorias que incitam o homem através da razão e imaginação a desvendar esses enigmas que cercam a humanidade. Ela [a ciência] não é construída apenas pela lógica dos fatos, mas, pela lógica, pelos fatos e pela experiência ocasionada por ambos (um ponto de vista empírico - conclusão a partir de dados), que gerarão resultados que comprovarão ou negarão as teorias em questão. Sendo construída também pela criatividade e imaginação, pois se dá através das convicções, percepções, do ponto de vista de seu autor. Contudo, causas e efeitos não são fatos, mas interpretações.

 

“A natureza não nos apresenta as evidências dentro de uma caixa com a etiqueta ‘evidências’. É o pesquisador quem tomará a decisão – e insisto na palavra decisão – de considerar algo relevante ou irrelevante”.  [12] (Alves, 2008)

 

Ele alega que a negação de uma teoria é pontual e determina o fim de um caminho em busca de uma verdade. Já a afirmação é sempre um novo começo para vários outros caminhos a se seguir.

“Podemos ter certeza quando estamos errados, mas nunca podemos ter a certeza de estarmos certos.” [13] (Alves, 2008)

Contudo, a Percepção nesse trabalho é a maneira de identificar as experiências vividas pelos alunos do Curso Técnico em Dança da ETEC de Artes (autores dessa pesquisa) em outros diferentes processos de aprendizagem em dança.

“A percepção é um processo contínuo de descobertas e associações que confluem para o conhecimento do mundo externo pelo individuo”. (Bronizeski, 1999)

O que se quer dizer é que a pesquisa não foi desenvolvida seguindo uma “receita de bolo”, que nos diz o que devemos olhar, observar e escrever. Essa pesquisa foi desenvolvida a partir da percepção dos próprios pesquisadores, associada às suas experiências e ao seu processo de desenvolvimento e aprendizagem da dança.



[1] Idem, p. 161. (Polanyi)
[2] Maurice Merleau-Ponty (Rochefort-sur-Mer, 14 de março de 1908Paris, 4 de maio de 1961) foi um filósofo fenomenologista francês. Aluno da Escola Normal Superior, formou-se em filosofia em 1930. Lecionou no Liceu de Beauvais de 1931 a 1933, no Liceu de Chartres de 1934 a 1935 e na Escola Normal Superior de 1935 a 1939.
[3]  Camila Bronizeski, nasceu em.... formada em Dança pela Unicamp em 2009.  Atualmente dá aulas no curso de Dança da ETEC de Artes, a partir de uma metodologia que visa a propriocepção de cada indíviduo para a compreensão e execução do movimento.
[4]  BRONIZESKI, Camila Davanço. A Dança como Processo de Percepção Corporal na Terceira Idade. São Paulo,1999. Relatório Final – Projeto de Iniciação Científica – Instituto de Artes de São Paulo da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”. p. 5.
[5]  Idem, p. 7.
[6] Júnia César Pedroso, Mestre em Artes pela UNESP, licenciada em educação artística com habilitação em Artes Cênicas pela mesma instituição. Formou-se atriz no teatro-escola Célia Helena. Elaborou as pesquisas “Klauss Vianna e a expressão corporal do ator” (iniciação cientifica com bolsa FAPESP) e “A partitura corporal do ator” (mestrado), ambas baseadas na abordagem corporal de Klauss Vianna. Atualmente é professora e coordenadora do curso de dança da ETEC de Artes.
[7] Klauss Vianna nasceu em Belo Horizonte em 1928. É resposável pela difusão do conceito “expressão corporal” do ator no Brasil, partindo da informações pessoais de cada um.
[8] PEDROSO, Júnia César. Klauss Vianna e a expressão corporal do ator. 2000. p. 54
[9] José Maria de Carvalho. In: PEDROSO, Júnia César. Klauss Vianna e a expressão corporal do ator. 2000. p. 65.
[10] Idem, p. 54.
[11] Rubem Alves nasceu em Boa Esperança, 1933, psicanalista, educador, teólogo e escritor brasileiro, é autor de livros e artigos abordando temas religiosos, educacionais e existenciais.
[12] ALVES, Rubem. Filosofia da Ciência, Introdução ao jogo e as suas regras. 2008. p.209.
[13] Idem, p. 188.

Introdução com os apontamentos da Camila

Esta é a introdução do TCC após as observações da Camila

Introdução

 

Este Trabalho de Conclusão de Curso surgiu de questionamentos sobre o profissional de dança, sua formação e seu processo de aprendizagem.

Instigados, principalmente pelo próprio processo, os alunos do curso técnico em dança da ETEC de Artes, propositores dessa pesquisa, se nortearam pelas próprias experiências e expectativas proporcionadas pelo curso acerca do aprender e fazer dança. Essas inquietações geraram várias perguntas, as quais, encontrando sentido nos questionamentos de Ângela Ferreira, buscou-se levantar discussões acerca da formação do profissional de dança atuante, que é formado para ser inserido no mercado de trabalho.

“Será que podemos estar preparando alunos capazes de usar suas experiências cognitivas, não apenas na aquisição de destreza e de habilidades técnicas e de repertório de dança, mas também em uma maior compreensão da realidade?[...] estariam prontos não para reproduzi-la [a realidade] pura e simplesmente, mas para serem capazes de compreendê-la, recriá-la e apropriar-se dela na construção de um novo conhecimento e um novo ser?”. [1] (Ferreira, 2010)

 

Partindo da necessidade de refletir e questionar sobre o papel e ação do bailarino na sociedade contemporânea, e a fim de identificar o processo de formação e identificar possibilidades de atuação de profissionais formados em diferentes escolas, foi proposto buscar outras instituições de ensino profissional em dança: a Escola de Dança de São Paulo (antiga Escola Municipal de Bailados de São Paulo) e a Escola Livre de Dança de Santo André. 

Assim, essa pesquisa propõe ver, ouvir, perceber como outros indivíduos, que passam [ou passaram] por diferentes processos de aprendizagem em dança vivenciam os seus processos e se veêm no mesmo. Refletindo a forma que o indíviduo recebe a sua formação e a coloca em prática, apropriando-se das palavras de Paulo Freire: “Estudar não é um ato de consumir ideias, mas de criá-las e recriá-las”. E aplicando-as ao ato de dançar, buscou-se ver, mais uma vez provocados por Ângela Ferreira:

"Como ensinar [e aprender] outras maneiras de fazer e usar a dança tornando-a propriedade de cada um." [2] (Ferreira, 2010)

Como a proposta da pesquisa é reconhecer outros processos de aprendizagem em dança a partir da própria vivência, o grupo foi conduzido para o campo da percepção do outro a partir de si. Para tanto, decidiu-se, aprofundar-se em autores e pesquisadores, que abordaram a percepção do ponto de vista fenomenológico, para fundamentar a pesquisa.

Estes autores são Rubem Alves, com seu livro Filosofia da Ciência, Introdução ao jogo e a suas regras (2008); Camila Bronizeski, com seu trabalho de Iniciação Científica A Dança como Processo de Percepção Corporal na Terceira Idade (2000);

Para mais fundamentar a pesquisa, foram escolhidos autores como Júnia César Pedroso, com seu trabalho Iniciação Científica Klauss Vianna e a expressão corporal do ator (2000); Isabel Marques com o livro Textos e Contextos: o ensino da dança hoje, que fundamentam a observação de aspectos da metodologia de ensino de técnicas; entre outros  trabalhos como o livro Algumas perguntas sobre Dança e Educação (2010), com textos de Isabel Marques, Cassia Navas, Angela Ferreira, Ana Terra; o livro A Dança de Mirian Garcia Mendes; O que é Arte? de Jorge Coli; e o texto Corpos híbridos de Laurence Louppe.

Juntamente com as leituras a pesquisa na Escola de Dança de São Paulo teve inicio no dia 29 de agosto, no qual os pesquisadores Lana Carolina Oliveira, Levi Souza e Sabrina Ferreira assistiram a aula de contemporâneo da professora Cristiana de Souza, assistindo novamente essa aula no dia 5 de setembro.

Nos dias 30 de agosto e 1º de setembro os pesquisadores assistiram a aula de consciência corporal com a professora Yeda Perez.

As entrevistas com as alunas Leticia Lacerda de Oliveira, Catarina Bueno da Silva e Monalisa Iolanda Céu Santos ocorreram no dia 1º de setembro na E.D.S.P. pelos três pesquisadores.

No dia 6 de setembro foi entrevistada a professora Yeda e no dia 9 de setembro foi entrevistada a professora Cristiana pelos pesquisadores Lana Carolina Oliveira e Sabrina Ferreira.

Já o trabalho na Escola Livre de Santo André teve inicio no dia 12 de setembro, no qual os pesquisadores Débora Reis, José Teixeira e Maria Julia Novaes assistiram às aulas de Técnica Clássica da professora Márcia Pereira.

Entrevistaram os alunos Fernanda Trigo e Rogério Romero na E.L.D. (Escola Livre de Dança) no dia 14 e depois assistiram novamente a aula de Clássico.

No dia 23 foram entrevistadas as alunas Débora dos Santos e Fabiana Louro. No dia 29 o grupo entrevistou a coordenadora artístico-pedagógica Alessandra Fioravantti e assistiram parte da aula de Técnica Contemporânea.

No dia 6 de outubro foi entrevistada a nova professora de Técnica Contemporânea dessa turma, professora Luciana de Carvalho e a aluna Jaqueline Cristina Rita. 

No dia 8 foi assistida a aula de Composição e Criação do Professor Alberto Carlos Martins e enquanto os alunos desenvolviam algumas atividades em grupos foi entrevistado o Professor Alberto Carlos Martins.

As entrevistas foram elaboradas a partir das questões levantadas pelos autores dessa pesquisa, após a leitura dos textos “A pesquisa em Memória Social” e “Sugestões para um jovem pesquisador” de Ecléa Bosi[3].  Sendo entrevistas de caráter qualitativo, as perguntas foram construídas de modo a fazer o entrevistado lembrar e compartilhar de como ele aprendeu, como está aprendendo dança e se ele acredita que esse aprendizado pode transformar/influenciar a sua ação pessoal e social. Essas entrevistas foram “audiogravadas” e serão apresentadas transcritas no final deste trabalho.

Com as observações e registros e, fundamentados pelos autores citados, os pesquisadores visualizaram significativamente parte do processo de aprendizagem em dança, e assim, buscaram argumentos para comprovar como os indivíduos estudados percebem o que aprendem; se fazem uma reflexão acerca do que aprendem e se conscientes de tudo isso e donos do seu próprio processo de aprendizagem vão transformar o seu entorno e o seu fazer.



[1] FERREIRA, Ângela. Curso Profissional de Nível Técnico em Dança – o que eles formam? In: TOMAZZONI, Airton. Algumas perguntas sobre dança e educação. 2010. p. 83.
[2] Idem, p. 80
[3] Bosi, Ecléa. O tempo vivo da memória. Editora Atelie. São Paulo, 2004.