quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Entrevista com Leticia Lacerda de Oliveira e Catarina Bueno da Silva, alunas do 5º ano de balé da manhã da Escola de Dança de São Paulo, realizada no dia 1 de setembro de 2011.

 
Transcrita por Levi Souza Novaes

Revista por José Teixeira dos Santos Filho

 

Lana: Lana Carolina Oliveira Isidoro

Letícia: Letícia Lacerda de Oliveira

Catarina: Catarina Bueno da Silva

 

 

Entrevista

 

Lana: Gostaria de saber sua experiência de vocês com a dança tanto aqui na Escola de Dança de São Paulo ou fora. O que influenciou vocês a procurar a EDSP?

Letícia: Eu já fazia balé desde pequena, Aí (ruído) eu gostava muito. Aí eu fiz o teste, passei, aí resolvi entrar.

Catarina: Eu queria ser bailarina, o meu tio ele me trouxe pra fazer uma apresentação no teatro municipal e ele ficou sabendo da escola e ele falou pra eu vir aqui fazer o teste. Passei.

Lana : Ah Legal! Mas você já tinha feito alguma coisa antes?

Catarina: Não

Lana: Não. (à Letícia) E você assim falou que você já fazia balé antes. O que te motivou a fazer antes daqui?

Letícia: Acho que, eu comecei muito pequena, comecei com três anos. Acho que é aquela coisa: você é pequenininha vamos fazer ballet, minha mãe acabou me colocando, aí, eu fui pegando gosto, fui crescendo e continuei fazendo sempre, nunca parei, aí eu resolvi fazer o teste.

Lana: E qual conceito de dança vocês tinham quando vocês começaram o curso? O que vocês pensavam de dança, quando você começou?

Catarina: Que era só balé clássico ou então valsa.

Letícia: Pra mim era só balé clássico, não tinha outra dança, era só... único balé que existia era o balé clássico, aí depois a gente vai descobrindo outras coisas.

Lana: Então essa idéia que você tinha quando vocês entraram mudou? O conceito que você tinha de dança mudou?

Letícia: Bastante.

Catarina: Muito.

Lana: E como foram assim, as etapas dessas mudanças? Como vocês foram percebendo que mudou o conceito de vocês a respeito da dança?

Catarina: A gente foi acrescentando mais disciplinas.

Letícia: É, acho que a gente introduzindo coisa nova, primeiro, do primeiro ao terceiro ano tinha criatividade, aí... era outra coisa, os professores sempre falava pra gente: “improvisa”, “não coloca nada do clássico”, “faz coisa diferente”, “movimentos criados, vocês que criam o seu movimento”.

Catarina: Vai tendo essa noção.

Lana: Diferente. E o que é dança pra vocês agora? É diferente do que era quando vocês entraram?

Catarina: Muito (risada)

Letícia: Bem diferente!

Lana: O que é a dança pra você agora?

Letícia: Acho que pra mim, é... agora eu não vejo mais só como uma historinha. Não só o balé clássico ou contemporâneo; não vejo só como uma história, mas sim você tem que expressar aquilo, não adianta você contar a história e não mostrar de fato como é, o que você... o que você (pausa) faz dentro da história, qual seu papel, acho que a dança agora tá (pausa) trazendo isso pra mim.

Catarina: A mesma coisa (risada)

Lana: E qual era o objetivo de vocês quando vocês entraram na escola?

Catarina: Seguir carreira.

Letícia: Eu ainda, ainda não pensava em seguir carreira. Eu só queria fazer o balé mesmo, gostava muito, mas aí depois conforme eu fui conhecendo melhor, agora, acho que... o meu objetivo agora é seguir carreira mesmo.

Lana: Então o seu objetivo mudou através do curso?

Letícia: É mudou

Lana: E o seu?

Catarina: (excesso de ruído impossibilita a audição da fala)

Lana: Você entrou com um objetivo e continua com ele? (Ela acenou que sim) O que que vocês estão aprendendo nas aulas de contemporâneo?

Letícia: Agora a gente ta trabalhando bastante com a mobilidade do corpo, porque até... até o ano passado a gente trabalhava só com o clássico, e o clássico no meu ver agora é muito assim, é muito quadrado, uma coisa mais, tudo preso (Catarina diz: Tudo igual), tem que ta tudo na técnica, o contemporâneo não, você pode se soltar mais. O corpo, ele fica mais a vontade.

Catarina: De vez enquando dói um poquinho.

Letícia: É mas... tudo dói né.

Lana: E nas aulas de consciência corporal?

Letícia: Acho que há uma ligação viu. Eu vou fazendo uma ponte entre o contemporâneo e conscientização porque a gente trabalha basicamente as mesmas coisas, mas em conscientização corporal a gente... trabalha mais assim (Catarina diz: Da onde sai esse movimento) como entender, como entender o movimento o contemporâneo não (não dá pra ouvir) a gente já começa a fazer, e em consciência corporal não. Vai trabalhando desde o início do movimento né,  todo assim, todo um processo.

Lana: Ah legal! E como a professora de vocês de contemporâneo, a Kika né? Como ela ensina?

Catarina: Eu acho que é de um modo divertido.

Letícia: Acho que é assim, ela ensina pra gente, mas ai ela não vai cobrando e tentando limpar. Ela vai tentando mostrar como faz pra gente entender o movimento, entende como faz e não fazer só por fazer e acho que acaba ajudando. Tanto no processo criativo, quanto nas aulas mesmo.

Catarina: Porque ninguém faz igual ao outro, né?

Letícia: É. Sim, cada um do seu jeito, mas eu acho que ela tenta mostrar pra gente como... como a gente chega no movimento e não como faz. E é isso

Lana: E a Yeda de consciência corporal, como ela ensina?

(risadas)

Letícia: (pausa) Acho que ela procura mostra primeiro nela, o movimento, como faz, depois ela tenta fazer com que a gente entenda, pra passar pro nosso corpo, a partir... assim, do contato visual, olhando, ela mostra, fala, explica.

Catarina: Ela faz a gente sentir um pouquinho o movimento, ela mostrando, ela... você vê que ela ta sentindo mesmo, e ai quando a gente tem que fazer, a gente tem que ter essa percepção.

Lana: E existe algo que vocês aprenderam assim, em dança, que motivou mais vocês?

Letícia: Que motivou? Bom pra mim é... o que motivou mais foi a introdução do contemporâneo em termos, que motivou bem mais que eu conheci um mundo novo praticamente do que só o clássico, me motivou bastante.

Lana: E você (direcionada para a Catarina, que faz gesto positivo). Contemporâneo também!

Lana: E como vocês superam a dificuldade nas aulas?

Leticia: Muito treino... (ruídos) quando a gente não consegue a gente vai treinando, treinando, é o que faz com que a gente consiga ultrapassar barreira, né.

Lana: Legal! Nas aulas de consciência corporal, vocês têm maior percepção e contato com o corpo de vocês, com a individualidade. E Quais foram as maiores descobertas que vocês fizeram de si mesmas?

Leticia: Acho que dos espaços do corpo. Antes eu não imaginava o quanto de espaços, é... cada articulação, cada coisa mínima que tem no nosso corpo. Eu pensava assim, eu pensava no corpo, mas como uma estrutura assim, que tinha articulações  mas... que não tão bem feitas assim, acho que, não sei, é diferente do que eu via o corpo e agora eu vejo.

Lana: E você, qual foi a sua maior descoberta? (direcionada para Catarina)

Catarina: (pensa) Os espaços também, toda hora, todo mundo ficava falando fecha, fecha e na verdade isso servia pra abrir os espaços.

Lana: E essas descobertas que vocês tiveram, que vocês fizeram, influenciou no modo de vocês dançarem?

Catarina: Muito, porque... (Letícia diz: Fala Catarina!), ajuda tanto no contemporâneo quanto no clássico. Tudo no... é, tudo no clássico é bem marcadinho, então você tendo essa percepção você sabe onde você tem que melhorar, aonde você tem que ajustar. No contemporâneo acho que é a mesma coisa, você poder mais... trabalhar mais um pouquinho, conhecer mais o movimento. É isso.

Letícia: Pra mim ajudou mais no contemporâneo. Que no clássico eu já entendia né? Que tinha que crescer, que... é  tudo mais amplo, agora no contemporâneo eu achava assim, era mais mole por ficar mais a vontade então eu que podia fazer de qualquer jeito Não precisava prestar atenção nos espaços do corpo, não precisava crescer tanto quanto no clássico, ai depois eu fui vendo a diferença, que mesmo sendo contemporâneo precisa, de... uma atenção.

Lana: A escola está passando por umas mudanças. O que vocês perceberam que mudou?

Catarina: Que agora o foco é... não é mais ensinar, é deixar a gente seguir carreira.

Leticia: Acho que eles tão tentando fazer (pausa), que nem agora no meio do ano, fez uma apresentação pequena de um processo criativo, que agora eles tão procurando trazer aqui pra gente, a gente não só fazer o que os outros pedem, mas também criar, porque quando a gente sai daqui, se a gente não souber criar alguma coisa, a gente não vai dançar a vida inteira.

Lana: Que efeitos essas mudanças tem causado em vocês?      

 Letícia: ah, eu acho que... é... antes eu (pausa) nem pensava que eu fosse  criar alguma coisa aqui dentro, por que eu  já sabia como era né, que sempre  os professores  montavam alguma coisa, é... então assim... criatividade (ruído) as aulas mesmo partiam da nossa cabeça, tudo assim, mas... é... coreografia, apresentação assim, tudo sempre os professores que montavam, tudo eles que planejavam, a gente opinava bem pouco, sobre a escola, acho que agora (pausa) é... o foco não é mais esse, o foco também é que a gente participe da escola, dos projetos, dê idéias.

Lana: Você tem mais liberdade de criação?

Catarina: Liberdade de criação e ponto de crítica também.                         

Leticia: Também.

Lana: Tem algum bailarino ou grupo de dança pelo qual que você tem preferência?

Leticia: Ah de clássico... ah de clássico tem vários, agora contemporâneo eu gosto bastante do Balé da Cidade.

Catarina: O Grupo Corpo também.

Leticia: O Grupo Corpo é muito bom! Eles têm coreografias assim... maravilhosas! Eles trabalham (Catarina fala alguma coisa que não dá pra entender) com o corpo de uma maneira (pausa) diferente assim, você olha e você fala: nossa! Isso deve ser muito legal de fazer.

Lana: E fora da escola, você tem alguma outra aula de dança? Ou algum contato com outra linguagem artística?

Letícia e Catarina: Não, aqui não.

Lana: O que vocês pretendem fazer quando terminar aqui?

Catarina: Eu pretendo seguir carreira. É que com essa introdução do contemporâneo acho que... numa companhia que tem dois: O clássico e o contemporâneo (ruído) não só o clássico.

Letícia: É.(ruído) Pretendo entrar numa companhia. Não... pra não dançar só o clássico, mas dançar clássico, contemporâneo.

Lana: E vocês pretendem fazer alguma faculdade?

Catarina: Eu queria fazer (pausa) queria fazer dança na Unicamp. Ou então... Artes do Corpo na PUC.

(ruídos e pausa)

Letícia: Eu não sei. Já pensei também em fazer alguma coisa relacionada à dança ou mesmo a artes cênicas, pensei também em fazer teatro, mas ainda não decidi o que que eu vou fazer, porque... acho que um pouco de tudo é legal, mas eu ainda não decidi. Não sei bem o que eu vou fazer.

Lana: E vocês pretendem continuar o estudo em dança quando acabar o curso? Vocês falaram que talvez participar de uma companhia que tenha tanto o clássico quanto contemporâneo, mas vocês querem continuar um estudo de dança quando acabar a escola?

Catarina: Acho que se a gente parar a gente não faz mais nada. Tem que sempre tá buscando.

Leticia: Eu acho que quanto mais a gente busca, quanto mais a gente faz, mesmo que a gente já saiba aquilo... a gente descobrindo maneiras novas de fazer. Eu acho que, talvez um seguir estudo seria bom. Mesmo na companhia, que tem aula.

Lana: Vocês acreditam que bailarino possa ser um agente transformador da sociedade, possa transformar a sociedade?

Letícia: Olha, acredito que seja bem difícil, ainda mais aqui no Brasil.

Catarina: Nada é impossível.

Letícia: É.

Catarina: É por que essa coisa você atuar na sociedade, você entrega a cultura pro povo.

Letícia: Acho que na verdade não dá pra fazer muito isso, porque tem muita gente que não tem acesso, que não conhece, mas eu acho que se todo mundo, se cada um visse alguma coisa, com certeza mudaria lá no fundo alguma coisinha.

Catarina: Aqui na escola mesmo teve projeto das escolas com alguns adolescentes que eles estavam bem interessados.

Lana: É isso meninas. Obrigada! Obrigada mesmo. Foi muito bom conversar com vocês.